A preparar a segunda metade da temporada, Maria Luís Gameiro faz balanço positivo de um ano cheio de emoções fortes, muitas novidades e com um crescendo de exibições.
A temporada de 2024 do Campeonato de Portugal de Todo-o-Terreno e do Campeonato de Espanha de Ralis TT trouxe para ribalta uma equipa, um carro e uma dupla piloto/navegador que, sublinhe-se, tudo têm feito para se destacar em ambas as competições. O Team Motivo JCB a dupla Maria Luís Gameiro/José Marques e o Mini JCW Plus são de quem mais se fala numa disciplina que cada vez mais se assume como o “viveiro” de grandes pilotos a nível Mundial, mas também onde brilham as melhores máquinas. Portugal e Espanha partilham protagonismo no que ao calendário de eventos diz respeito, e são vários os pilotos que representam o denominador comum em posições de destaque nos dois campeonatos. Entres estes está, seguramente, Maria Luís Gameiro, para quem 2024 será sempre, sem sobra de dúvida, o ano de viragem na sua carreira. A piloto portuguesa tem feito por se colocar em evidência e o modo como o fez foi não apenas pelos resultados obtidos, mas também, e muito, pela postura séria, humilde e altamente profissional com encarou os desafios a que se acometeu. Em jeito de balanço de meio de temporada a piloto reflete sobre o que tudo isto representa, aquilo que conquistou e o tanto que ainda pretende alcançar…
O seu início de ano teve um misto de emoções. Arrancou para o Campeonato de Portugal mais tarde, devido a uma lesão, estreou o novo carro. A verdade é que nada disto parece ter afetado a equipa… Foi assim?
“O arranque do ano foi um pouco um carrossel de emoções. Preparámos tudo, tomámos decisões importantes e com influência em todo o programa da equipa, mas… num treino fraturei uma mão. De repente tivemos que deixar tudo em “stand by” e voltar atenções para a minha recuperação. Este percalço impediu-me de disputar a primeira prova do campeonato, em Beja, e isso fez com que o Rally Raid Portugal representasse a minha estreia com o novo Mini JCW Plus, situação, que, admitamos, colocaria qualquer sob algum nível de stress. Felizmente tenho, de forma permanente e continuada, um enorme apoio de todos os que me rodeiam e isso permitiu que cada momento bom fosse desfrutado e este episódio menos positivo fosse assumido como se de “dores de crescimento” se tratasse, num caminho de aprendizagem que nos levará, como adiante se provou, a patamares mais altos. A verdade é que estou rodeada de profissionais que fizeram parecer que tudo isto era normal e quando regressei á competição, fi-lo com todas as condições.
Guiar um T1+ requer cuidados particulares. Foi difícil tirar partido das vantagens que este carro oferece?
“O Mini JCW Plus é um verdadeiro monstro. Uma besta que eu tive de aprender, antes de tudo o resto a domar. Tive um período relativamente longo para conseguir ter o carro sob controlo, sem que fosse ele a tomar conta de mim ou a minar a minha confiança.
Foi exigente, mas sinto que evoluí. As sessões de testes, as corridas, os mais variados tipos de pista, foram degraus que consegui subir, para alcançar objetivos. Tudo é diferente neste carro: a capacidade de aceleração, a eficácia da travagem, a forma como o carro reage a ultrapassar obstáculos. Tudo é diferente e tudo requer habituação. Sublinho que não foi fácil, também sei que hoje consigo andar melhor e divertir-me mais do que há uns meses, ou até semanas… ”
Sente que está hoje num patamar mais elevado?
“Não escondo que, em termos de resultados está a ser uma temporada que dificilmente esquecerei. É verdade que apostámos forte, estamos melhor equipados, mas, além do “upgrade” nos meios técnicos, também em termos humanos, estamos mais capazes. A aposta que foi feita foi exigente no plano financeiro, mas passou também a exigir mais de nós, mais preparação física, mais cuidado e detalhe nos períodos pré e pós-prova. No seio da equipa existe uma nova realidade, que se reflete em várias áreas e, tudo somado, resulta numa performance mais consistente com reflexo direto na classificação.”
Por tudo isto, o balanço da temporada é francamente positivo. O que lhe merece maior destaque nesta primeira fase do ano?
“Naturalmente, aquilo que estamos a fazer em Espanha é absolutamente espetacular e, acima de tudo único. Sinto que temos conseguido diversas “pedradas no charco” por um lado quanto decidimos alinhar nesta “guerra” com um T1+ e, mais relevante, pela performance que temos vindo a rubricar. Neste momento estamos a apenas 4 pontos de conseguir assegurar o vice-campeonato de Espanha de Ralis TT e isto depois de me ter tornado a primeira portuguesa a abrir a estrada numa prova oficial de todo-o-terreno na península ibérica. Os resultados são importantes por si só, mas sinto que há mais leituras a fazer daquilo que conseguimos atingir até agora. Temos trabalhado muito e não somos conhecidos por descansar “à sombra da bananeira”, portanto o que temos pela frente é uma segunda metade do ano tão ou mais exigente, mas com nós queremos enfrentar com a mesma vontade, abnegação, mas ao mesmo tempo com a humildade de quem sabe que a aprendizagem é um processo continuo e sem fim palpável. Estamos no bom caminho, mas queremos fazer ainda melhor em Portugal e em Espanha…”
Está a poucos dias de mais um grande desafio. Como encara a presença na Baja Aragon?
“Vamos para Aragon para fazer o melhor possível num “mar de tubarões”… Vamos defrontar os melhores pilotos, ao volante dos carros mais evoluídos e que, também eles, têm as metas perfeitamente definidas. Tudo o que queremos é manter-nos firmes nos nossos propósitos e ultrapassar mais este desafio da mesma forma que o fizemos até aqui. O trabalho que realizámos na última sessão de destes, aliada ao modo como conseguimos rolar no “Cierzo” são motivo de orgulho, mas também de sensação do dever cumprido. Sinto que estamos mais fortes, ainda mais capazes. Espero poder voltar a provar que isto é realmente assim e, confesso, estou cheia de vontade de regressar à competição.”