Gonçalo Inácio: talento, velocidade e um vice-campeonato agridoce e à décima

A temporada de 2025 ficará marcada como uma das mais intensas e exigentes da carreira de Gonçalo Inácio, piloto reconhecido unanimemente como um dos mais rápidos e competitivos do Campeonato de Portugal de Montanha JC Group.

No final de um ano duro, repleto de mudanças de rumo, adaptações constantes e decisões à décima de segundo, o piloto terminou como Vice-Campeão Nacional de Turismos, num campeonato onde esteve sempre no centro da luta pelo título e onde mostrou, prova após prova, uma combinação rara de velocidade pura, capacidade de adaptação e leitura estratégica da competição.

“Foi, sem dúvida, uma das épocas mais duras, desafiantes e competitivas que já vivi”, resume, com lucidez, no balanço final.

O projeto para 2025 estava bem definido desde o início: disputar toda a época ao volante de um Peugeot 208 Rally4, uma viatura que se enquadrava perfeitamente no seu estilo de condução e nos objetivos delineados. No entanto, o atraso na entrega do carro acabou por obrigar a uma mudança de planos ainda antes da primeira prova, algo que condicionou toda a abordagem inicial ao campeonato.

Determinando a não perder pontos logo à partida, Gonçalo procurou uma solução alternativa que lhe permitisse alinhar em Murça num carro elegível para os Turismos 2. Foi nesse contexto que, através de Luís Delgado, surgiu a oportunidade de competir com o Kia Ceed TCR da LOB Motorsport, um carro potente, exigente e completamente diferente daquilo que estava inicialmente previsto.

“Cheguei a Murça com total desconhecimento do carro e, para complicar, com chuva. Sabia que ia ser um fim de semana muito exigente, onde tudo teria de ser aprendido rapidamente”, recorda.

A prova inaugural acabou por revelar muito sobre o carácter competitivo do piloto. Em condições meteorológicas difíceis e num traçado que não perdoa erros, Gonçalo conseguiu adaptar-se ao Kia Ceed TCR com uma rapidez impressionante, beneficiando também de um trabalho de equipa extremamente sólido ao longo de todo o fim de semana.

O resultado foi inequívoco: vitória nos Turismos 2 e vitória à geral dos Turismos, um arranque de campeonato que superou largamente as expectativas e colocou desde logo o piloto na linha da frente da luta pelo título.

“Foi um fim de semana muito trabalhoso, mas extremamente positivo. Conseguimos tirar partido do carro e do trabalho da equipa, e esse resultado foi fundamental para o resto da época.”

Na Rampa da Penha, Gonçalo regressou finalmente ao Peugeot 208 Rally4, iniciando a prova de forma muito forte. O primeiro dia, disputado em piso húmido, permitiu-lhe explorar as qualidades do carro e terminar na liderança da Geral dos Turismos 2 e da Geral absoluta, reforçando a sensação de que tinha condições para lutar de igual para igual.

No entanto, com a melhoria das condições meteorológicas e o piso completamente seco no segundo dia, a diferença de potência face às viaturas TCR tornou-se evidente, condicionando o andamento e obrigando a uma abordagem mais defensiva.

“Com o piso seco, a diferença de potência fez-se sentir de forma clara. Lutámos até onde foi possível, mas tivemos de aceitar essa limitação”, explica, terminando a prova num 3.º lugar que, ainda assim, se revelou importante em termos pontuais.

A Rampa da Falperra, terceira prova do campeonato, representava um desafio adicional: era um traçado completamente novo para Gonçalo. De novo ao volante do Kia Ceed TCR, encontrou rapidamente um ritmo forte numa rampa rápida e extremamente técnica, assumindo a liderança da prova e demonstrando, mais uma vez, a sua capacidade de adaptação. Durante grande parte do fim de semana, tudo parecia alinhar-se para mais uma vitória. No entanto, na última subida de prova, um pequeno erro acabou por ter consequências significativas, relegando-o para o 2.º lugar final.

“São coisas que acontecem na montanha. Estava a liderar, mas um erro paga-se caro”, admite, num dos muitos momentos em que o campeonato se decidiu em margens mínimas.

A Rampa de Santa Marta marcou, assumidamente, o ponto mais baixo da temporada. O fim de semana começou com ambição e confiança, mas uma saída de estrada na segunda subida alterou completamente os objetivos inicialmente traçados.

A partir desse momento, o foco passou a ser terminar a prova e somar o máximo de pontos possível. Graças a um trabalho exímio da equipa, o carro foi reparado a tempo da última subida, permitindo a Gonçalo alinhar novamente e garantir um 2.º lugar final. “Sem o trabalho incrível da equipa, nem sequer teria voltado à linha de partida”, sublinha.

No Caramulo, um persistente problema elétrico limitou o andamento durante todo o fim de semana. Apesar das inúmeras tentativas para solucionar a falha, a equipa acabou por não conseguir resolver o problema, obrigando o piloto a gerir e levar o carro até ao fim, assegurando novamente a 2.ª posição.

A Rampa de Boticas, penúltima prova do campeonato, poderia ter sido decisiva. Gonçalo esteve sempre entre os mais rápidos, assinando mesmo os melhores tempos entre os TCR ao longo do fim de semana. À entrada para a última subida, tanto ele como o adversário direto tinham hipóteses reais de vencer e ganhar vantagem na luta pelo título.

“A meio da subida, o carro desligou-se do nada e nunca mais pegou. São corridas…”, lamenta, num abandono que pesou fortemente nas contas finais.

Tudo ficou então adiado para a Rampa da Arrábida, onde Gonçalo chegou em igualdade pontual com o principal rival, Pedro Alves. A equação era simples: quem vencesse seria Campeão Nacional. Durante todo o fim de semana, o piloto foi consistentemente o mais rápido em pista, mas, mais uma vez, a última subida revelou-se ingrata. Um segundo lugar foi suficiente para confirmar o Vice-Campeonato Nacional de Turismos, numa decisão resolvida nos detalhes.

No balanço final, Gonçalo Inácio faz uma análise desportivamente lúcida e frontal: “Posso dizer que fui um jogador de futebol com uma má finalização.” A velocidade esteve sempre presente, o andamento nunca foi posto em causa, mas a montanha, como poucas modalidades, não perdoa erros nem azares.

O piloto faz questão de destacar o papel da LOB Motorsport, sublinhando o profissionalismo, a dedicação e o espírito competitivo de toda a estrutura: “Foi um orgulho fazer parte de uma equipa que queria vencer tanto ou mais do que eu.”

Aos parceiros que acreditaram no projeto, JMM, Ducati Leiria, Diatosta, Grupo Segurança Máxima, Perfilcapital, BP Évora, Stand Manobra Máxima, Optusângulo, Ambicare, Novum Canal, Restaurante À Mesa, Q&F Lda. e WildTT, deixa um agradecimento claro e sentido.

Quanto a 2026, a ambição mantém-se intacta: “A vontade é repetir o campeonato e lutar pelo título. As negociações não estão fáceis, mas veremos o que o próximo ano nos reserva.”

Depois de uma época onde esteve quase sempre na linha da frente, Gonçalo Inácio confirmou-se como uma referência do Campeonato de Portugal de Montanha JC Group.

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