António Barros: o bicampeão que fez da coragem a sua maior arma na montanha

Há épocas que se conquistam com carros perfeitos, outras com estratégia. A época de 2025 de António Barros, no Campeonato de Portugal Legends de Montanha JC Group, foi ganha com algo mais raro e mais valioso: fibra humana.

Ao volante do seu inconfundível BMW M3, o piloto nortenho tornou-se Bicampeão Nacional, num ano em que tudo, à exceção da sua vontade, parecia conspirar contra ele.

Seis vitórias, uma sequência de contratempos quase inacreditável e um dos regressos mais emocionantes da época: assim se escreve a história de um piloto que nunca desiste.

Murça: a primeira batalha e o primeiro aviso

A temporada abriu em Murça, um traçado técnico, rápido e sempre temperamental. As condições atmosféricas foram tão severas quanto imprevisíveis. Chuva, vento e piso escorregadio transformaram cada curva num teste à concentração.

E foi precisamente com concentração que António Barros venceu. Mais do que a vitória, ficou um sinal à concorrência: o 5.º lugar absoluto na 1.ª subida de prova, um momento de puro brilhantismo.

A Penha é, assumidamente, a prova favorita do piloto. E foi lá que viveu um dos episódios mais marcantes da época e da sua carreira. Na última curva da 1.ª subida de prova, sofreu um acidente violentíssimo. Uma pancada dura, um carro muito danificado e um silêncio pesado ao longo da rampa inteira.

Para muitos pilotos, aquele momento marcaria o fim do fim de semana. Para António Barros, foi o início de algo ainda maior. Num esforço coletivo quase comovente, amigos, equipa, mecânicos e até espectadores transformaram a noite numa oficina improvisada.

“Só com a minha paixão é que não desisti”, recorda o piloto.

No domingo, com um carro remendado, sem estar em condições ideais, voltou à pista… e venceu. O público, que vibrou com a sua coragem, viveu um dos momentos humanos da temporada.

A Falperra seria a prova da força física. Literalmente. O BMW M3 voltou a responder mal à dureza do campeonato e perdeu direção assistida.

“Manobrar um carro daqueles, naquela rampa, naquela velocidade, sem apoio do sistema hidráulico… é quase sobre-humano”, recorda.

Ainda assim, e apesar de condições meteorológicas novamente extremas, António Barros voltou a vencer. Uma vitória arrancada com esforço, técnica e uma tenacidade que poucos conseguem compreender.

Depois do inferno das provas anteriores, a Serra da Estrela quase pareceu suave.

“Talvez a rampa mais fácil do campeonato”, resumiu. A facilidade, claro, é relativa quando se fala de montanha, mas com tudo finalmente a funcionar, assinou a quarta vitória da época.

Santa Marta, quando tudo volta a falhar… e Barros volta a ganhar!

Santa Marta é “especial para todos os que lá passam, pela organização, pela energia do público, pela sensação de família”, relembra. Mas para Barros, a edição de 2025 foi mais um teste à resistência.

Na primeira subida de prova: a caixa de velocidades partiu. E mais uma vez surgiram as mãos amigas do paddock: Horst Baptista e Ricardo Pereira emprestaram uma caixa… que acabou por ser de um carro a gasóleo.

O escalonamento era impossível, o setor útil praticamente inutilizado. Mesmo assim, com total concentração, venceu pela quinta vez na temporada!

Uma nova caixa emprestada permitiu alinhar na Rampa do Caramulo, desafio seguinte do campeonato.… mas só depois de chegar ao evento é que descobriu que não tinha 2.ª velocidade. Num traçado técnico, repleto de mudanças de ritmo, era meio caminho para o desastre.

Mas não para António Barros.

“Foi uma prova de grande concentração”, admite e foi mais uma vitória, a sexta consecutiva que o colocou às portas da renovação do título de campeão.

Boticas: quando o 2.º lugar vale ouro

Com a caixa definitiva ainda por reparar, surgiu na Rampa de Boticas uma terceira caixa improvisada, que não aguentava o torque do BMW. Sempre que acelerava a fundo, a velocidade saltava fora.

Tornava-se impossível lutar pela vitória. E foi ali que se confirmou a grandeza do piloto: soube gerir, soube ler o campeonato, soube levar o carro até ao fim.

O 2.º lugar em Boticas selou o bicampeonato, numa época “dura, imprevisível e emocionalmente intensa”.

Foi vencida não pelo carro, mas pelo piloto. Pelas pessoas à sua volta. Pela comunidade que o ajudou a reconstruir o BMW M3, física e simbolicamente, várias vezes ao longo do ano.

“Quero agradecer à família, aos amigos, à minha equipa técnica e aos meus patrocinadores. E uma palavra especial aos meus adversários diretos, Filipe Macedo, Telmo Costa e Miguel Gonçalves, que me obrigaram a elevar o meu nível. Este título também é deles.”

António Barros encerra 2025 como uma das figuras maiores da Montanha. Um campeão que vence tanto com talento, garra e perseverança, provando que a força de continuar, mesmo quando tudo falha, vale mais do que qualquer tempo no cronómetro!

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