A alta competição nunca foi fácil. E no motorsport, fácil é um adjetivo raramente utilizado. Num desporto onde uma décima de segundo pode decidir o vencedor, cada pormenor conta. Há fins de semana que, apesar de difíceis, acabam por serem saborosos, pois os resultados permitem sorrir. Há outros, mais ingratos, em que apesar do trabalho bem-feito, os resultados não permitem tanta festa. Foi o que aconteceu no Estoril à Speedy Motorsport com uma mistura de excelentes resultados, outros nem por isso, mas com ótimas prestações em todas as corridas.
O Campeonato de Portugal de Velocidade / Iberian Supercars foi até ao Circuito do Estoril para a segunda jornada da temporada. E depois da bem sucedida passagem por Jerez, que valeu quatro vitórias, a Speedy Motorsport chegou ao mítico traçado luso com ainda mais sede de vitórias, sabendo que o Balance of Performance, o handicap aplicado na paragem nas boxes e a forte concorrência iriam colocar à prova a estrutura liderada por Pedro Salvador. Ia ser necessário foco, determinação, garra e um pouco de sorte para tentar repetir os feitos da primeira jornada. Mas, como se diz, a sorte dá muito trabalho… e mesmo assim, por vezes ela foge.
GT 4 PRO
Resultados positivos para as contas do campeonato
César Machado e Jan Dúran estavam determinados em manter o nível da primeira etapa da temporada 2024 e os primeiros dados mostravam que os bons resultados, mais do que possíveis, seriam prováveis. Na qualificação 1, César Machado foi o mais rápido, conquistando a sua segunda pole e na qualificação 2, Dúran ficou a apenas um décimo de segundo do melhor tempo.
A corrida 1 acabou por dar um segundo lugar após penalizações, com o handicap de 10 segundos na paragem obrigatória a complicar as contas da dupla, que ainda assim conseguiu subir ao pódio. Na corrida 2, uma paragem mais prolongada e um Safety Car acabou por retirar o duo do Toyota GR Supra GT4 EVO do caminho da vitória, conseguindo, ainda assim, uma espetacular recuperação até ao sexto posto.
César Machado fez o resumo do fim de semana, com um balanço positivo, apesar das contrariedades que roubaram vitórias quase certas, dado o andamento demonstrado:
“As qualificações começaram por correr bem e conseguimos fazer mais uma pole position para a corrida 1 e um segundo lugar para a corrida 2.
Na corrida 1, tínhamos de cumprir um handicap de 10s de tempo extra na troca de pilotos, fruto da vitória na corrida 2 de Jerez. Após um bom arranque, consegui ganhar uma vantagem confortável para amenizar o dito handicap e entreguei o carro ao Jan na primeira posição. Na troca de pilotos, um concorrente entrou na fast lane demasiado cedo e fez-nos perder cerca de 12 segundos, perdendo assim a possibilidade de lutar pela vitória. Conseguimos terminar em 2º posto, após a penalização de um adversário.
Na corrida 2 estivemos na luta pela vitória durante a primeira parte da corrida, mas um erro da minha parte na troca de pilotos fez-nos perder tempo na box. Regressei a pista em 19º, uma vez que o pelotão estava todo junto, fruto da entrada do Safety Car. A partir daí tentei recuperar o mais possível, terminando a corrida na 6ª posição”.
Jan Dúran reconheceu as dificuldades do fim de semana, realçando a aprendizagem e os pontos conquistados:
“Foi um fim de semana difícil, mas aprendemos com ele para a próxima corrida. Conseguimos pontos muito importantes para o campeonato e assim aumentar a nossa liderança na categoria GT4 PRO.
O sábado começou com uma excelente sessão de qualificação, com o César a fazer a pole position para a corrida 1 e eu a ficar em segundo lugar para a corrida 2.
Com uma primeira corrida promissora, o César colocou em pista um ótimo ritmo no primeiro stint, deixando o carro no primeiro lugar. Com o handicap terminámos a corrida na 2ª posição após penalizações.
Na corrida 2 fomos prejudicados pelo BOP tornando a tarefa difícil. Depois de partir do segundo lugar, consegui deixar o carro parar na 4ª posição. Após a paragem nas boxes, terminámos na 6ª posição!
Olhamos agora com confiança para o futuro, com base na excelente performance deste fim de semana.”
Olhando às contrariedades, o fim de semana acaba por ser positivo, amealhando pontos importantes para as contas do título. Nas competições com poucas jornadas como o CPV /IS, a regularidade é fundamental para o sucesso. A dupla Machado / Dúran mostrou determinação para dar volta às adversidades, sempre com um andamento muito bom.
GT 4 AM
Fim de semana para esquecer
Os irmãos Nabais têm-se destacado pela rápida adaptação ao mundo das corridas e pela sua velocidade em pista. A dupla do Porsche 718 Cayman GT4 RS CS voltou a mostrar um andamento forte, dominando as qualificações na sua divisão. Nas corridas, o cenário foi completamente diferente, com dois incidentes que os retiraram da luta pela vitória, como explicou Miguel Nabais:
“É difícil não sentir tristeza pelo desfecho do fim de semana de corridas no Estoril, especialmente após um início promissor em ambas as qualificações onde ambos conseguimos a pole position da categoria GT4 AM.
O arranque para a primeira corrida foi bom, limpo, sem toques, mas infelizmente, na volta de entrada para a box, quando me preparava para entregar o carro ao André, outro carro bateu violentamente em mim, danificando o carro e obrigando-nos a abandonar.
Na segunda corrida, o André, numa tentativa de ultrapassagem, embateu de forma bastante violenta noutro carro e tivemos que abandonar de novo.
No entanto, há muitos pontos positivos a destacar, como o ótimo desempenho, a competitividade e a evolução notável de ambos, o que nos dá confiança para as próximas corridas.
Gostaríamos de agradecer à equipa pelo trabalho incrível que fizeram, a entregarem-nos o carro com um setup bastante bom e também na recuperação do carro após o embate sofrido na primeira corrida”.
GT 4 BRONZE
Muito potencial a explorar.
Depois de uma primeira experiência bem sucedida aos comandos do Toyota GR Supra GT4 EVO, Luís Pedro foi para esta segunda jornada focado em fazer mais e melhor. Com a adaptação a uma nova realidade a correr de feição, o potencial ficou claro na qualificação em que fez o quinto melhor tempo. O piloto não conseguiu reproduzir na corrida o que mostrou nos treinos e na qualificação, algo que lamentou:
“Depois de ter demonstrado rapidez ao ter feito o 5.º tempo na Qualificação 1, os resultados da corrida souberam a muito pouco. Ritmo de corrida mais lento que o dos treinos, e alguns erros cometidos deixaram um sabor amargo que se acentuou pela perda do pódio à classe, no final em photo finish da corrida 2. A adaptação e evolução a esta nova competição continua e voltarei mais competitivo na próxima ronda do campeonato. Num pelotão de 40 carros o fim de semana saldou-se por um 17º e um 13º à geral, e um 4º lugar na classe GT4 Bronze em ambas as corridas. Muito Obrigado à Speedy Motorsport por terem sido incansáveis e terem proporcionado todos os meios para termos sucesso”.
GTX
Excelente fim de semana
Andrius Zemaitis conquistou mais dois pódios, à imagem do que tinha feito no primeiro fim de semana. Um fim de semana muito positivo para o piloto lituano, que aproveitou para se preparar para os próximos desafios:
“Penso que tivemos um fim de semana muito bom. Para mim, o principal objetivo é apenas divertir-me e carregar a bateria com boas emoções. Como nos meus planos estão as corridas de 12h e 24h, este fim de semana foi ótimo para trabalhar no meu desempenho. Concentrámo-nos principalmente em evitar quaisquer contactos e trabalhar na consistência. Este objetivo foi alcançado a 110%. Usamos apenas um jogo de pneus para duas qualificações e duas corridas. Para nós, foi importante gerir os pneus e manter um bom ritmo a pensar no final da corrida 2. Como a minha melhor volta foi no final da segunda corrida, o resultado fala por si. E todo o meu ritmo na corrida 2 foi muito regular, por isso estou super feliz com os resultados. A equipa preparou o carro na perfeição para conseguir isso e tivemos um bom progresso em todas as sessões. E, claro, 3º e 2ºna minha categoria!”
PEDRO SALVADOR (CHEFE DE EQUIPA )
Pedro Salvador fez o balanço do fim de semana da sua equipa. Contas feitas, foi um fim de semana positivo, apesar de algumas contrariedades:
“O balanço continua a ser positivo, obviamente com resultados diferentes em cada uma das categorias. Começando pelos GT4 Pro, não foi uma operação tão boa quanto desejaríamos, mas acabou por ser uma boa operação para o campeonato. Estamos satisfeitíssimos pelo andamento demonstrado e creio que ficou claro que fomos a equipa mais rápida e mais competitivos. Na primeira prova, tínhamos de cumprir um handicap de 10 segundos e fomos prejudicados na saída das boxes por outro concorrente que nos fez perder mais dez segundos. Isso comprometeu o resto da corrida, mas terminamos em terceiro e coma penalização de um carro adversário, subimos ao segundo posto.
Na segunda corrida levamos peso extra e uma alteração de BoP devido à performance da corrida anterior, o que nos acrescentou peso e retirou potência. Apesar disso, o andamento foi ótimo, mas voltamos a perder tempo na troca de pilotos, mais uma vez presos na saída das boxes. Isso atirou-nos para o fundo do pelotão, uma vez que paramos após entrada do Safety Car. O César fez uma recuperação fabulosa no pouco tempo que esteve em pista,subindo até ao sexto lugar. Mantivemos a distância para os nossos concorrentes, o que acaba por ser positivo.
Nos GT4 Bronze, o Luís fez um trabalho fantástico na qualificação, mas as corridas não correram de acordo com o potencial demonstrado. No entanto, cumpriu com o propósito delineado para este ano, que é de aprendizagem e adaptação a uma nova realidade e tenho a certeza que o seu andamento se vai traduzir em resultados em pouco tempo.
Nos GT4 AM, duas vitórias que nos fugiram de forma declarada. A primeira quando sofremos um toque violento de um concorrente, quando tínhamos a corrida na mão. Não fizemos nada de errado, mas uma manobra demasiado otimista estragou-nos a corrida. Na segunda, uma distração do André, quando liderávamos confortavelmente, tirou -nos uma vitória praticamente garantida. Uma pena, pois foram duas vitórias perdidas, quando tínhamos andamento para triunfar sem grandes problemas.
Nos GTX, o Andrius esteve dentro do que era expectável, com resultado da corrida 2 algo comprometida com tempo perdido na saída das boxes, mais uma vez. Conseguiu dois pódios, o que foi ótimo.
No geral, satisfeitos com os resultados obtidos, olhando às condicionantes do fim de semana. Satisfeitos com o trabalho realizado, conscientes do que há a melhorar. Estamos na luta e vamos continuar a trabalhar da mesma forma.”
COPA RACER
A operação da Speedy Motorsport no fim de semana do Estoril supervisionou oito carros, quatro no CPV /IS e mais quatro na Copa Racer. E também aqui a Speedy foi bem sucedida com um triunfo na corrida longa de 45minutos, com explicou Pedro Salvador:
“Recebi um convite de última hora para correr na Copa Racer, onde conseguimos mais um triunfo, desta feita na corrida de longa duração, como Phil Fevre, que foi o meu companheiro de equipa. O resto dos Minis a cargo da Speedy estiveram sempre na luta pelo pódio, o que reforça o balanço positivo do fim de semana.”
SPEEDY MOTORSPORT
30 anos depois, o regresso onde tudo começou
A Speedy Motorsport é uma das melhores estruturas nacionais e a operação levada para o Estoril mostra isso mesmo. Foram oito carros em pista, uma equipa de 20 pessoas, divididas em três grupos, dois para os GT e um para os Minis da Copa Racer, cada grupo com o seu engenheiro de equipa. Uma orquestra bem afinada que já trabalha de olhos fechados, sempre sob o olhar atento de Pedro Salvador, o chefe, diretor de equipa e o mentor.
A Speedy é o reflexo do que foi como piloto. E foi há 30 anos, em 1994, que Salvador teve o primeiro contacto com um carro de corrida. Nesta pista mítica, um dos melhores pilotos nacionais deu os primeiros passos. E, curiosamente, foi também no Estoril que a Speedy Motorspot começou:
“ Para mim, o Estoril é estar em casa. É um dos meus circuitos preferidos e, não menos prezando nenhum, é um circuito tecnicamente muito exigente. Estar no Estoril é sempre bom. E foi no Estoril que a aventura Speedy começou. Foi nesta pista que fui desafiado a fazer uma equipa de competição. O desafio foi lançado pelo Paulo Sá Silva, numa prova dos Single Seaters, em que o Paulo me pergunta se já tinha pensado fazer uma equipa. A ideia já existia, mas com aquele desafio, ganhou força. O Paulo foi um dos principais motivos pela existência da Speedy. Ele e duas pessoas importantíssimas: o Nuno Couceiro e uma senhora chamada Ana Gaio, a minha esposa. O Paulo deu o tiro de partida, o Nuno disse-me para avançar e a Ana deu-me a confiança para avançar. A Speedy existe também graças a essas pessoas”.
A vida é feita de ciclos. E este ciclo não deixa de ser de grande relevo. 30 anos depois de ter começado o sonho, Pedro Salvador tornou-se num dos melhores pilotos do nosso país, criou uma equipa, que agora trilha o mesmo caminho de sucesso. Será que o jovem que em 94 experimentou pela primeira vez as sensações de um carro de competição imaginava que, depois de uma carreira de sucesso, estaria a liderar a sua própria equipa, com oito carros nessa mesma pista? Talvez não. Mas o percurso feito até agora é louvável, continuando a escrever páginas importantes no desporto motorizado nacional.